Lágrimas de verdade

Vou confessar algo aqui que é meio bobo: em choro em cenas de revelação da verdade. Devo isso ao legado mendeliano da minha mãe, que chora atá vendo novela. Meu pai é racional, contido, homem à antiga, responsável pelo meu meio rousseauniano. Só chorou no dia da morte da minha vó.

Não é quando fulaninha descobre que vai ser mãe, isso não me comove. É um resultado orgânico tão predizível que soa raso e sem muita surpresa. Talvez menos para os descuidados. Mas me comove a cena de uma criança abandonada por ignorância, por falta de responsabilidade, por apego a tradições cegas, por incapacidade de racionalizar cinco minutos à frente. A morte também não me impressiona, destino inexorável à toda critura, seja por acidente, por violência ou por prazo de validade. É triste não ter aquela pessoa mais ao seu lado, mas tão comum que não sei porque ela ainda é tabu. Ela só me agride quando é perpetrada pela estupidez, pela falta de senso crítico e moral.

Vida e morte, as instituições biológicas, são autômatas. Aconteceram desde sempre sem nossa intervenção. Elas só ganham matizes quando são frutos da busca por um caminho de curiosidade, de conhecimento, de descoberta, de revelação. Quando são resultado da vontade de saber. A ciência, tanto a biológica quanto a social retratada pela fotografia documental, estática ou em movimento, é o elemento de conscientização, de racionalização, de impacto, de destruição de engessamento, da tradição cega mais forte que nós já inventamos. Tão fortes que não conseguimos desviar o olhar e muito menos reproduzi-lo. Toda vez que efeito observado encontra causa descoberta, quando seus segredos naturais são revelados fruto de árduo trabalho de investigação, é hora de pálpebras lubrificadas e dutos lacrimais em ação.

William Kamkwamba me fez chorar de novo.